Alfa Romeo 33 Stradale: Passado do Presente

O novo 33 Stradale é muito mais do que a herança de um desportivo de 1967. É a antecipação do que podem vir a ser os Alfa Romeo do futuro, numa reafirmação da marca de Arese no mercado global

Não é fácil fazer pontes entre o passado e o futuro, mas todas as regras têm exceções e o Alfa Romeo 33 Stradale é um bom exemplo. O “novo” modelo que estará disponível para 33 clientes (todos vendidos) dispostos a pagar um milhão de euros (ou mais..., é segredo) tem tudo a ver com aqueles que, entre 1967 e 1968, compraram as 18 unidades produzidas e desembolsaram (na época) mais do dobro do valor de um Jaguar E-Type e mais 30% do que o preço de um Lamborghini Miura.

Desses 18 modelos produzidos no passado, um está no museu da Alfa Romeo, em Arese (perto de Milão), seis ou sete foram alterados como “concept cars” ao longo dos anos e os restantes são propriedade de privados. Cada vez que um deles surge num leilão internacional faz sucesso e já houve vendas a ultrapassarem os 10 milhões de dólares. A isto chama-se rentabilidade. Todos estes 33 Stradale têm um número de chassis, que começou com o 10533.01.

O novo 33 Stradale quer assumir-se como o herdeiro/evolução do modelo de 1967, nascido para levar à estrada o prazer de condução dos protótipos do (então) Campeonato do Mundo de Marcas (o WEC da altura).

O “novo” foi desenhado pelo Centro Stile Alfa Romeo e produzido pela “Touring Superleggera” e tem muitos laços com o “velho”, idealizado por Franco Scaglione e construído pela “Carrozzeria Marazzi” para a Autodelta.

Opção de design

Alejandro Mesonero-Romanos, responsável pelo design da Alfa Romeo, considera que o novo 33 Stradale “é um manifesto à beleza essencial, linhas simples, sensuais e ao mesmo tempo potentes e capazes de proporcionar desejo e emoções fortes”.

Com o novo 33 Stradale, a ideia original não se alterou, mas há um passo muito grande no sentido da modernidade

Mas não nos podemos esquecer que tudo começou em 1967. É certo que a imagem foi modernizada, mas a ideia não se alterou. A traseira é mais agressiva, em nome da eficácia da gestão dos fluxos de ar e, na zona dianteira, o escudo da Alfa Romeo e o carbono são sinais de modernidade. Todas as linhas mostram as preocupações com a aerodinâmica. Os faróis integram tomadas de ar, que canalizam os fluxos para os radiadores, ao mesmo tempo que um “splitter” em fibra de carbono maximiza o “efeito de solo”. Do passado para o presente, a distância entre-eixos cresceu de 2,35 metros para 2,70 metros num 33 Stradale que é hoje 6,7 centímetros mais longo e 25,5 centímetros mais largo do que o modelo de 1967.

As ligações entre o presente e o passado são evidentes nas propostas de cores disponíveis: “Rosso Alfa Romeo pastello”, “Rosso Villa d´Este” e “Blue Reale”, para além de uma decoração branca e vermelha, inspirada num modelo de competição dos anos 60. A personalização é a gosto. O cliente pode escolher o tipo de acabamento da fibra de carbono visível na carroçaria, a configuração das tomadas de ar e até a grelha dianteira (normal ou tridimensional), para já não falar em “banalidades” como o desenho ou dimensão das jantes, da cor das pinças de travão e o estilo das ponteiras de escape. Todo este trabalho está a cargo de um novo departamento da Alfa Romeo – “La Bottega” –, que reúne vários especialistas e técnicos, capazes de responder às mais estranhas exigências do cliente no campo da personalização, para que cada unidade seja diferente das restantes.

“La Bottega”

“La Bottega” pretende recriar o passado, quando o cliente endinheirado chegava a uma marca e comprava o seu modelo de eleição para ser feito por medida.

Esta proposta está bem evidente no habitáculo onde a proposta inicial já é moderna e elegante quanto baste, refinada nos detalhes e simplificada nos comandos (poucos) colocados na consola central ou no tejadilho, como nos aviões, para já não falar num painel de instrumentos digital. As propostas base – Tributo, que alia alumínio e couro, ou Alfa Corse com fibra de carbono e alcantara – podem ir tão longe no campo da personalização, quanto o cliente quiser. O comprador até pode personalizar oito algarismos no número do chassis,  associados aos 5 (10533) que identificam a família dos 33 Stradale e de competição.

V6 ou elétrico

Numa proposta que respeita o passado e pensa no futuro, a marca de Arese propõe o novo 33 Stradale com um motor 3.0 V6 biturbo, mas também avança com uma proposta 100% elétrica. Sinal de tempos que contrastam com o 2.0 V8 do passado. A evolução entre o passado e o presente é evidente no campo da potência destes coupés com motor central traseiro. Em 1967 a Alfa Romeo retirava 230 cv do V8 de 1995 cc, hoje o 3.0 V6 (partilhado com o Maserati MC20, mas com um novo escape) oferece 320 cv.

O bloco V8 “herdado” da competição e concebido pelo engenheiro Carlo Chiti tinha acoplada uma caixa manual Colotti de seis velocidades nos anos 60 e o V6 biturbo atual, evoluído com base no 2.9 V6 utilizado no Giulia e Stelvio Quadrifoglio, tem associada uma transmissão automática de oito velocidades com dupla embraiagem e um autoblocante viscoso gerido eletronicamente. As performances atuais – 333 km/h de velocidade máxima e menos de três segundos para passar de 0 a 100 km/h – contrastam com os valores indicados no passado: menos de seis segundos de 0 a 100 km/h e 253 km/h de velocidade máxima, medidos pela revista alemã Auto Motor und Sport em 1968, quando percorreu um quilómetro com o 33 Stradale em 24 segundos, estabelendo um valor surpreendente para a época.

Os italianos não adiantaram muitos detalhes sobre a motorização elétrica. Anunciaram 750 cv de potência, uma bateria de 102 kWh (90 kWh úteis), uma autonomia de 450 km e pouco mais. Fala-se de três motores e tração às quatro rodas. A indefinição pode ter a ver com o rumor de que apenas 3 dos 33 clientes aceites pela Alfa Romeo optaram pelo elétrico. Diz-se – mas a Alfa Romeo não confirma.

O tema 33 Stradale é mais ou menos reservado. A Alfa Romeo admite que tem uma “lista de espera” com mais de 20 candidatos, mas recusa a hipótese de ir além das 33 unidades anunciadas, por “uma questão de credibilidade”. O modelo da apresentação parece destinado ao museu da marca em Arese e as primeiras unidades devem começar a ser entregues a clientes no final de dezembro.