A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui, na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje, contamos-lhe a história da Alba.
A marca Alba foi um dos melhores projetos automóveis jamais empreendidos em Portugal.
Contudo, não era apenas uma marca de carros, mas sim e primeiramente, uma das maiores metalúrgicas da nossa indústria, fundada em 1921, em Albergaria-A-Velha.
A Alba, como marca de carros (de competição), surge apenas nos anos 50, pelas mãos de António Augusto, o filho do fundador da metalúrgica.
É, então, no ano de 1952, que nasce o primeiro modelo da marca.
Este bólide, à semelhança de outras marcas portuguesas, como a FAP, adotou o chassis, o motor, e a transmissão de um Fiat 1100. E, no topo, adicionou-lhe uma carroçaria completamente fabricada, de raiz, em alumínio.
O chassis viu, no entanto, a distância entre os eixos diminuir, ganhou longarinas de reforço e adotou uma posição mais recuada para o seu motor. O qual foi amplamente modificado, passando a debitar 70 cv, o que permitia impulsionar o desportivo até aos 185 Km/h.
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Já no ano seguinte, em 1953, surge um segundo Alba. Idêntico ao primeiro, recebem ambos, ainda nesse ano, novos componentes de motor, fabricados pela EFI (Eduardo Ferreirinha & Irmão), e pneus Mabor, também de fabrico lusitano.
Um feito inédito da engenharia lusa
De 1952 a 1954, os Alba, tal como os portugueses FAP, DM, Olda e PE, competiam na categoria Sport. A qual estava limitada de 750 cc até 1100 cc.
Contudo, ainda no ano de 1954, o ACP (Automóvel Clupe de Portugal), decide aumentar a cilindrada desta categoria, para 1500 cc, tornando os Alba pouco competitivos.
Face a este novo desafio, a Alba decide então recorrer a motores Maserati. Que, no entanto, eram extremamente caros.
Confrontado com esta situação, Augusto Pereira apercebe-se que, pelo preço dos motores italianos, conseguiria projetar e fabricar um motor novo, de raiz. E assim fez.
O resultado foi, talvez, o maior feito técnico da industria automóvel portuguesa, com um motor bastante avançado para a época.
O bloco era de 4 cilindros, com 1490 cc (quadrados, com diâmetro e curso de 78mm), construído em alumínio.
A cabeça do motor, com dupla árvore de cames, também adotou este material, sendo que cada cilindro contava com duas válvulas, mas também com duas velas. Além de distribuidores alimentados diretamente pelas árvores de cames.
Este motor, apenas contava com 3 componentes estrangeiros: êmbolos Mahle, carburadores duplos da Solex, e distribuidores de gasolina projetados especificamente para a Alba, pela marca Bosch.
Todos estes componentes permitiram o motor Alba atingir umas estonteantes 8000 rpm, debitando 90 cv (mais 20 cv que o motor Fiat), que levavam o leve Alba (500 kg) até aos 200 km/h.
O novo motor estreou-se em 1955, em Guimarães, onde venceu a sua classe, superando um Triumph, um Chevrolet e um Allard.
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Competição
Foram fabricados três carros, que viram a sua carreira competitiva acontecer entre 1952 e 1961. Período durante o qual participaram em 42 provas, conquistaram 25 pódios e ganharam 10 corridas. Um sucesso, portanto.
Mas foi sobretudo entre os anos de 1952 e 1956, que o grosso das vitórias aconteceu.
Sendo que, a partir daí e mesmo com um motor avançado para a época e potente, a Alba não conseguiu equiparar-se à nova concorrência estrangeira, de forma consistente. A qual acabou sendo beneficiada pelo já referido regulamento relativo à cilindrada...