A grande maioria de nós, portugueses, somos incapazes de indicar mais do que uma ou duas marcas de automóveis lusitanas. Aqui, na Turbo, e durante as próximas semanas, pretendemos retificar esta lacuna, pois, na verdade, Portugal está repleto de histórias, projetos e marcas dignas da nossa consideração. Hoje contamos-lhe a história da AC.
Decorria o ano de 1980, quando, Luís Cação, filho do fundador da oficina A. Cação-Automóveis, Lda., decidiu criar o seu próprio desportivo, depois de uma visita a uma feira de automóveis, em Inglaterra.
Nesta feira, Luís tomou conhecimento de uma construtora que produzia carros com base no Volkswagen 1300, o bem conhecido Carocha. Sendo que, foi, assim, que nasceu assim o conceito do AC Sport Car.
LEIA TAMBÉM
FAP: a primeira marca automóvel portuguesa do pós-guerra
A carroçaria foi, então, projetada, para ser construída em fibra de vidro, tarefa que foi executada em Vila Franca de Xira e, posteriormente, em Coimbra.
Pelo caminho, no entanto, alguns percalços, como foi o caso do incêndio, que queimou os moldes originais da carroçaria. Até que, em 1981, é construído o primeiro AC Sport Car.
Um ano mais tarde, iniciou-se produção das primeiras unidades, para venda, e que ficou a cargo da própria AC (A. Cação-Automóveis, Lda), na sua oficina na Figueira da Foz, onde este pequeno desportivo foi montado.
O AC Sport Car
Produzido de forma artesanal, o AC Sport Car contava com uma estrutura em tubo de aço, com reforço interior, conjugada com uma carroçaria de linhas aerodinâmicamente eficazes e elegantes, com um perfil acentuadamente baixo.
Aliás, o design fazia lembrar os desportivos da Lotus e da Ferrari, de meados da década de 70 e 80. Sobretudo, no que toca aos faróis dianteiros, que, quando desligados, se "escondiam" na carroçaria, num processo engenhoso, que faz lembrar o mecanismo do Jaguar XJ220.
Outro apontamento estético interessantíssimo, eram as portas, que abriam para cima, estilo "asas de gaivota", tal como acontecia no Mercedes 300 SL Gullwing.
No entanto, não foi somente a carroçaria a receber atenção, já que, também chassis, recebeu profundas modificações, face à do Carocha.
A suspensão, por exemplo, era independente às quatro rodas, além de conter barras de torção e amortecedores hidráulicos. Além disso, o AC Sport Car contava ainda com barra estabilizadora à frente, discos de travão à frente, e de tambor, atrás.
Em termos propulsores, o desportivo português contava com quatro motorizações, todas montadas atrás do eixo traseiro: um 1.2 de 34 cv, um 1.3 de 40 cv, um 1.5 de 44 cv e um 1.6 de 50 cv. Todos eles provenientes de "carochas" e, como tal, de 4 cilindros opostos, a 4 tempos, e refrigerados a ar.
Quanto às caixas de velocidades, eram de quatro velocidades, completamente sincronizadas, e com um diferencial, que transmitia a potência para o eixo traseiro.
O Fim
À semelhança de outras marcas portuguesas de desportivos, como a Alba, a FAP e a DM, o fim da AC, como fabricante de carros, chegou demasiado depressa. Tendo a empresa construído o último exemplar do seu Sport Car, em 1988.
LEIA TAMBÉM
Entreposto: a marca portuguesa que nos deu o SADO 550
No entanto e ao contrário destas outras marcas portuguesas, a AC ainda conseguiu passar o seu projeto à produção. Sendo que, mesmo sem ter alcançado as 60 unidades que anunciou como meta, ainda vendeu 16.
Quanto ao fecho de portas, aconteceu, porque a empresa não conseguiu assegurar a viabilidade financeira, de um projecto que exigia enormes investimentos. Algo que a AC não tinha, e que levou ao fim do AC Sport Car.