A história do capacete perdido de Niki Lauda

Desaparecido durante 37 anos, o capacete usado por Niki Lauda no acidente de 1976 reapareceu agora, misteriosamente. Uma história rocambolesca

Foram precisos mais de 30 anos para que a AGV, a fabricante italiana de capacetes, reassumisse a posse do capacete que Niki Lauda utilizou no Grande Prémio da Alemanha de 1976, durante o qual sofreu um brutal acidente que quase o vitimou.

Resgatado dos escombros envoltos em chamas, Lauda esteve vários dias em coma, com queimaduras em diversas partes do corpo, ficando com marcas permanentes na cara e na cabeça.

O capacete que usava ganhou, por isso, um enorme valor histórico tendo passado a integrar a coleção privada do então dono da AGV.

O simbolismo decorrente do facto de, para muitos, ter salvo a vida do (na altura) atual campeão do Mundo de F1, associado ao facto de manter as marcas do acidente, nomeadamente a viseira parcialmente derretida, fez crescer o interesse ao redor daquilo que, normalmente, seria um “simples” capacete, sendo por isso requisitado com frequência pelos agentes da marca para exposições e ações promocionais.

E foi numa dessas viagens entre Nova Iorque e Tóquio, onde deveria ser exposto como atração durante a inauguração das instalações do agente local da AGV, que o capacete cor de laranja desapareceu sem deixar rasto.

Ao roubo, seguiu-se um processo de litígio no tribunal italiano, entre a AGV e o transportador, o qual ficou concluído apenas no ano de 2000.

A descoberta

Três décadas e meia mais tarde, com o paradeiro do capacete desconhecido, a peça ressurgiu subitamente há alguns meses, num leilão organizado pela Bonhams, em Miami, com preço de licitação inicial de 60 mil dólares.

Ao tomar conhecimento da situação através do comunicado da leiloeira, a AGV – agora detida pela Dainese – não hesitou em procurar uma forma de reaver o capacete.

A solução foi recolher a decisão do tribunal italiano sobre o processo de litígio ocorrido 25 anos antes, que estipulou a AGV como a legítima proprietária do capacete.

A equipa da Dainese enviou a respetiva documentação e a leiloeira Bonhams cancelou a venda do capacete do piloto austríaco, na véspera do leilão acontecer.

A história não acaba aqui

O regresso do capacete a Milão não foi imediato devido à contra-argumentação do alegado proprietário do capacete, que defendeu a venda com um documento assinado pela família do piloto austríaco que autorizava a venda.

Depois da AGV submeter uma queixa no tribunal de Miami, as duas entidades chegaram à acordo fora do tribunal, o que garantiu o retorno legítimo do capacete a Itália.

Agora, faz parte da exposição permanente do Dainese Archivio, o museu da empresa italiana em Vicenza, Itália.